“Há homens que lutam um dia, e são bons Há outros que lutam um ano, e são melhores; Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons; Porém há os que lutam toda a vida Estes são os imprescindíveis.” (Bertolt Brecht)
Fiquei dando tratos à bola quando Bolsonaro, eleito, mas ainda não empossado, foi assistir ao jogo comemorativo da conquista do Campeonato Brasileiro pelo Palmeiras.
Sentou-se ao lado do presidente do clube do Parque Antártica e da dona da Crefisa.
O capitão ergueu a taça com especial disposição, todo pimpão,carregando a bolsa de colostomia a tiracolo que segundo atestado médico (entre aspas) o impediu de debater com Haddad no segundo turno. Só faltou dar a volta olímpica.
Foi uma comédia de erros deprimente, principalmente porque não contou com protestos de ex-presidentes do clube e da maioria da crônica esportiva.
Como já foi dito, ele e seus filhos, são os típicos machões do atestado médico e do twitter.
Retomando o final do poema de Brecht, “Porém há os que lutam toda a vida/ Estes são os imprescindíveis”, lembramo-nos obrigatoriamente da posição firme de João Saldanha, num período muito mais difícil de nossa História, período de torturas, assassinatos e perseguições.
Tempo da ditadura civil-militar. Tempo onde despontaram figuras como o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, ídolo de Jair Bolsonaro e Mourão e outros do grupo que está no poder.
Não custa lembrar que o capitão Jair e sua turma sempre revelaram-se entusiastas deste longo período ditatorial do Brasil.
Em seu voto pelo impeachment de Dilma Rousseff, Bolsonaro não poupou elogios a Eduardo Cunha e ao torturador Ustra que massacrou na cadeia a presidenta Dilma, vítima do golpe que se seguiu.
Vejam e ouçam:
Caso fosse técnico do Palmeiras, Saldanha, no mínimo tiraria o time de campo e nem olharia para Bolsonaro.
Basta lembrar que o gaúcho de Alegrete, saiu do sério quando recebeu a notícia do assassinato de seu amigo e ex-companheiro de Partido Comunista, Carlos Marighela, vítima de uma tocaia em São Paulo, em 4 de novembro de 1969. Estava no exterior quando soltou o verbo, convocando uma entrevista coletiva, cujo teor foi publicado em jornais mexicanos, franceses, ingleses, italianos,e de alguns outros países. Pouco depois, recusa um convite para um jantar com o ditador Médici, em Porto Alegre, e se nega a aceitar sugestão invasiva do mandante da tocaia que vitimou seu amigo Marighela para convocar o jogador Dario. Responde na lata: “Tenho em comum com o Presidente várias coisas; somos gaúchos, somos gremistas, gostamos de futebol, e nem eu escalo ministério e nem ele escala time”. Quinze dias depois disso tudo estava demitido.
Assista a entrevista de João, em Porto Alegre.
Em 1987, três anos antes do seu falecimento, entrevistado no programa Roda Viva, afirma sem papas na língua: “Considero o Médici o maior assassino da História do Brasil. Pombas, este cara matou amigos meus. Não podia pactuar com uma situação dessas. Tinha e ainda tenho um nome a zelar”.
Para ver esta fala, assista ao vídeo:
Alguém tem alguma dúvida de qual seria a reação de João Saldanha a frente do time do Palmeiras?
Voltaremos em outras edições aqui do blog, a João Saldanha, o “João sem medo, magro de tanto que as paixões o ralam”, como dizia Nelson Rodrigues, não deixando de criticar com firmeza alguns jornalistas de fancaria que deturpam a trajetória de João no futebol e na política.
Esquecendo propositalmente ou por ignorância de suas qualidades como técnico e seu detalhismo na preparação física de seus times.
*Raul Milliet Filho é doutor em História pela USP, professor, pesquisador, especialista em políticas sociais na área pública e editor responsável e criador do “Deixa Falar : Megafone da Cultura”.
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