Por Raul Milliet Filho
A genialidade de Mario Monicelli permite abordagens diferenciadas da práxis. É possível partirmos da arte no cinema, do riso e de paralelos com o samba carioca como nos fixarmos em épicos de sua lavra antepondo com clareza a luta de classes e a necessidade de utilizarmos filmes como Os Companheiros para isso.
Turim, final do século dezenove, a Revolução Industrial caminhava em ritmo acelerado. Em contraponto, as ideias anarquistas e socialistas e as primeiras experiências das organizações partidárias e sindicais delineavam um painel social explosivo. Neste cenário aparece o professor Sinigaglia, personagem interpretado por Marcelo Mastroianni que chega à cidade, foragido da polícia política genovesa.
Mario Monicelli, em Os Companheiros, realiza uma obra prima do cinema político, sem abrir mão do diálogo da amargura e da ironia, nas tratativas com os patrões; nas conversas entre os próprios operários e no romance do protagonista com a personagem interpretada por Annie Girardot, uma prostituta filha de uma das lideranças dos grevistas.
Posso dizer que este filme foi marcante em minha vida. Ainda muito jovem aos 21 anos, a militância e a vida do personagem do professor Sinigaglia me estimulou a desenvolver trabalhos em fábricas e favelas. Não só a mim, mas como a vários outros companheiros da Ação Popular Marxista Leninista (APML), PCB e de outras organizações de esquerda.
Reparem bem nos 10 minutos finais de Os Companheiros. Para um jovem comunista nada mais instigante e marcante. Nesta conjuntura a classe operária europeia lutava para reduzir a sua massacrante jornada de trabalho e conquistar direitos mínimos, como a proibição do trabalho de crianças em fábricas e auxílio acidente de trabalho.
Abaixo, no primeiro vídeo, a parte final de Os Companheiros com o discurso emocionante do professor Sinigaglia. Não há como não se emocionar.
Por último, o filme na íntegra.
Raul Milliet Filho é Historiador, criador e editor responsável deste blog, mestre em História Política pela UERJ, doutor em História Social pela USP. Como professor, pesquisador e autor prioriza a cultura popular. Gestor de políticas sociais, idealizou e coordenou o Recriança, projeto de democratização esportiva para crianças e jovens. Autor de “Vida que segue: João Saldanha e as copas de 1966 e 1970” e do artigo “Eric Hobsbawm e o futebol”, dentre outros. Dirigiu os documentários: “Quem não faz, leva: as máximas e expressões do futebol brasileiro” e “A mulher no esporte brasileiro”.
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